O Professor do Cesusc Dr. Prudente José Silveira Mello, membro da Comissão de Anistia Política do Ministério da Justiça, será o relator do Processo de Anistia Política de um dos maiores revolucionários do teatro brasileiro, o diretor artístico e presidente da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona e ex-perseguido político, José Celso Martinez Corrêa (Zé Celso), que completou 73 anos em 30 de março.
José Celso Martinez Corrêa, Cacilda 1980
Acervo Teatro Oficina
A Sessão Especial da 35ª Caravana de Anistia Política, onde Zé Celso deverá receber o perdão do Estado brasileiro, ocorrerá nesta quarta-feira, dia 7 de abril, no Teatro Oficina. A 35ª Caravana da Anistia ocorrerá dentro do cenário da peça “O Banquete”, de Platão, e todos os atores, incluindo o diretor Zé Celso, já estarão trajando os figurinos da peça. O mestre-de-cerimônias será um dos atores. Não haverá uma mesa específica para o julgamento. Os conselheiros sentarão em pufes ou colchões à mesa do Banquete. Ao redor desta mesa estarão sentados também atores e pessoas da plateia.
O Banquete (2009)
Foto: Marcos Camargo / Acervo Teatro Oficina
Estarão presentes o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, o Presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão e o Presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Barbosa.
Após a solenidade, haverá uma Sessão Especial e gratuita de “O Banquete”, de Platão, que promete “chocar” a plateia.
Sobre José Celso Martinez Corrêa
José Celso Martinez Corrêa emergiu nos anos de 1960 como um dos mais revolucionários diretores teatrais do país, numa época marcada pela encenação europeizada do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Desde então, vem construindo um dos mais originais percursos dos palcos brasileiros, além dos mais radicais e polêmicos, em busca de uma linguagem estética que revolucione o comportamento das pessoas.
Associando seu teatro ao ritual dionisíaco, procura quebrar com a tradicional relação palco /pláteia e integrar o público à ação dramática, para retirá-lo de sua tradicional passividade. Experimentou assim as teorias stanislaviskianas, percorreu o realismo clássico de Maxim Gorki e Checov e experimentou o "teatro épico" de Bertolt Brecht. Atualmente, aproxima-se cada vez mais das idéias de Antonine Artaud.
Formado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, criou, em parceria com Renato Borghi, Amir Haddad, Jorge da Cunha Lima e outros, o Teatro Oficina, em 1958. O espetáculo de estréia do grupo foi Vento Forte para Papagaio Subir (1958), escrito por ele mesmo. Depois de passar pelo grupo Teatro de Arena, dirigido por Augusto Boal, iniciou-se como diretor com A Vida Impressa em Dólar (1961), de Clifford Odets.
Tomado pelo vigor e engajamento político, tanto quanto pela necessidade em promover rupturas, montou em 1967 seu mais inovador espetáculo: O Rei da Vela, de Oswald de Andrade. A peça, dedicada ao cineasta de Terra em Transe, Glauber Rocha, expressou as idéias do movimento tropicalista e marcou a história do teatro brasileiro. Misturava sem pudor teatro de revista, ópera, circo ao panfleto modernista e transitava com o elenco do palco para a platéia, confrontando o espectador. Assumindo seu "teatro de agressão", montou o explosivo Roda Viva (1968), de Chico Buarque de Hollanda; no mesmo dia em que foi decretado o AI-5, Galileu Galilei (1968), de Brecht; em seguida Na Selva das Cidades (1969), também do dramaturgo alemão; e Gracias Señor (1972), sua primeira criação coletiva. Preso e torturado pelo regime militar, partiu para o exílio, onde permaneceu de 1974 a 1978. De volta ao Brasil, reabriu o Oficina com a peça 25 (1979). Seus mais recentes trabalhos foram Ela (1997), de Jean Genet, e Cacilda (1998-1999), uma criação coletiva.