Faculdade CESUSC realiza semana temática para relembrar os 50 anos do Golpe
Foi realizado na Faculdade Cesusc, de 31 de março a 4 de abril, o Seminário 1964 – O Golpe que Não Deve ser Esquecido.
No período de uma semana, foram realizadas palestras, debates, conferências e leituras dramáticas, além de sessões de cinema para relembrar os anos de Ditadura no País.
A conferência de abertura, intitulada “Banimento, exílio e outros deslocamentos forçados nos anos de chumbo – Brasil 50 anos depois”, contou com a presença do Coordenador Geral de Assuntos para Refugiados e Conselheiro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Virginius Lianza de Franca, do também Conselheiro da Comissão Anistia do Ministério da Justiça e Diretor Presidente da Faculdade CESUSC , Prudente Mello, e do Coordenador do Curso de Direito da Faculdade CESUSC, Rogério Duarte da Silva.
Em sua contextualização do golpe, Virginius Lianza de Franca listou exemplos de atos persecutórios realizados pelos agentes do Regime Militar. As forças políticas atuantes na época foram destacadas por Prudente Mello, que explicou aos presentes o conceito de “Justiça de Transição”. Para que as memórias ajudem a revelar a verdade, resultando em justiça e reparação para os envolvidos, é necessário “compreender e construir um ambiente de resgate da memória”, explica.
Para que o resgate seja eficaz, os terrores da ditadura devem ser relembrados. Segundo Rogério Duarte da Silva, o contato dos jovens com as memórias do regime servem para “mostrar que a ruptura da democracia e das instituições sociais não soluciona nenhuma crise.”
Já na terça-feira (dia 1º), no intuito de discutir maneiras de se resgatar os acontecimentos, e tentar compensar os erros do passado, os vereadores Afrânio Boppré e Lino Peres foram recebidos pelo Professor de Direito Samuel Martins para a palestra “Comissão da Verdade – limites e possibilidades”.
Numa outra mesa: “A Luta por Memória, Verdade e Justiça” reuniu Fernando Ponte, Professor da UFSC, Desembargador Ledio Rosa De Andrade, Desembargador do TJ/SC e Professor e o advogado e assessor da OAB/SC, Anselmo Da Silva Livramento Machado.
Fernando Ponte falou sobre o clima de insegurança na época da ditadura. “Só quem viveu pode saber o que foi a ditadura militar. São sentimentos que vão além da violência bruta, muito além da rigidez do regime”. Um dos maiores medos, segundo ele, era o dos desaparecimentos arbitrários. O professor da UFSC elogiou o evento, que ele espera servir para refrescar a memória da população, pois “pessoas que hoje em dia aplaudem atitudes repressoras da policia não se lembram da época da ditadura”.
O Desembargador Lédio Rosa de Andrade também questionou as recentes posturas adotadas pelas polícias em Florianópolis. Ele destacou que as forças armadas nunca pediram desculpas formais à sociedade brasileira pelos abusos cometidos. Tampouco a cúpula da Igreja, por ter apoiado o golpe. O Desembargador do TJ/SC considera que a Lei da Anistia Brasileira apenas protegeu os ditadores em um período de fragilidade do regime. Segundo ele, as informações propagadas pelo evento são a melhor maneira de impedir que um regime militar volte a vigorar no país. “Ninguém pode decidir o que eu devo ou não saber. Ou o que eu devo ou não conhecer.”
Os acadêmicos, professores e comunidade interessada puderam entrar em contato com outros conhecimentos e impressões sobre a Ditadura por meio do Projeto de Cinema “Marcas da Memória”.
Foram exibidos os filmes Repare Bem, dirigido por Maria De Medeiros; Duas Histórias, de Ângela Zoé; Em Nome da Segurança Nacional, de Renato Tapajós; e Militares da Democracia: os militares que disseram não, dirigido por Silvio Tendler.
Além dos filmes, o Grupo Espaço Cênico realizou a Leitura Dramática “Lembrar é Resistir”.
Foram realizados debates para sedimentar e refletir sob outros pontos de vista os conteúdos e questionamentos presentes em cada obra, após sua exibição. Participaram destes debates o Presidente Honorífico CESUSC e Professor da UFSC, Edmundo Lima De Arruda Jr; o advogado e Diretor da Itaipu Binacional, Doutor Honoris Causa do CESUSC, Edésio Franco Passos; o Coordenador do Curso de Psicologia CESUSC, Almir Sais; o Coordenador do curso de Direito CESUSC, Rogério Duarte Da Silva; os Professores da Faculdade Daniela Felix, José De Araújo, Ademar Pozatti, Geyson Gonçalves, Leonardo Rossano, Sérgio Lema e Sandro Sell; o Professor da FURB – Universidade Regional de Blumenau, Nelson Garcia Santos; e Alexandre Botelho, Secretário-Geral da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SC.
O poder da arte como catalisadora de transformações sociais foi salientado após cada obra, pela sua capacidade de, segundo o Professor Ademar Pozzatti, de “sensibilizar as pessoas frente à violência”.
As características da sociedade brasileira atual, baseada na violência e hierarquia, heranças da ditadura, foram analisadas pelo Doutor Honoris Causa da Faculdade, Edésio Franco Passos. Ele dividiu experiências marcantes em sua vida, marcada pelo enfrentamento ao regime autoritário, e falou das marcas que a tortura deixa na vida de quem esteve nas celas do DOPS. “A contradição, em uma democracia, sempre existirá”, disse o renomado advogado sobre as recentes manifestações favoráveis à volta do autoritarismo, “mas não se pode impedir institucionalmente que as pessoas se manifestem a favor do que acreditam”.
Confira como foi a programação:
31 de Março
19h – Segunda-feira
Conferência: “Banimento, exílio e outros deslocamentos forçados nos anos de chumbo – Brasil 50 anos depois”
VIRGINIUS LIANZA DE FRANCA – Coordenador Geral de Assuntos para Refugiados e Conselheiro da Comissão de Anistia do MJ.
Coordenador: PRUDENTE MELLO – Diretor Presidente CESUSC e Conselheiro da Comissão Anistia – MJ
1º Abril
08h – Terça-feira
Palestra: “Comissão da Verdade – limites e possibilidades”
AFRÂNIO BOPRÉ – Vereador e Professor do CESUSC
LINO PERES – Vereador e Professor da UFSC
Coordenador: SAMUEL MARTINS – Professor CESUSC.
19h – Terça-feira
Palestra: “A Luta por Memória, Verdade e Justiça”
FERNANDO PONTE – Professor da UFSC
LEDIO ROSA DE ANDRADE – Desembargador do TJ/SC e Professor
Coordenador: ANSELMO DA SILVA LIVRAMENTO MACHADO – advogado e assessor OAB/SC
2 de abril
08h – Quarta-feira
Cinema Projeto “MARCAS DA MEMÓRIA” FILME “REPARE BEM “
Direção MARIA DE MEDEIROS
Debate com: ALMIR SAIS – Coordenador do Curso de Psicologia CESUSC
DANIELA FELIX – Professora do CESUSC
Coordenador: JOSÉ DE ARAÚJO – Professor CESUSC
19h – Quarta-feira
LEITURA DRAMÁTICA – “LEMBRAR É RESISTIR” Grupo: ESPAÇO CÊNICO – Curitiba/Paraná
Roda de conversa do grupo com os professores
ADEMAR POZATTI – Professor CESUSC
ALEXANDRE BOTELHO Secretaria da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SC
3 de abril
08h – Quinta-feira
Cinema Projeto “MARCAS DA MEMÓRIA” FILME “DUAS HISTÓRIAS”
Direção ÂNGELA ZOÉ
Após, Debate com: GEYSON GONÇALVES – Professor CESUSC
NELSON GARCIA SANTOS – Professor da FURB – Universidade Regional de Blumenau
Coordenador LEONARDO ROSSANO – Professor CESUSC
19h – Quinta-feira
Cinema Projeto “MARCAS DA MEMÓRIA” FILME “EM NOME DA SEGURANÇA NACIONAL”
Direção RENATO TAPAJÓS
Após, Debate com: EDÉSIO FRANCO PASSOS – advogado e Diretor da Itaipu Binacional
ROGÉRIO DUARTE DA SILVA – Coordenador do curso Direito CESUSC
Coordenação: SUSAN MARA ZILLI – Escritório de Defesa da Classe Trabalhadora e Instituto DECLATRA
4 de abril
08h – Sexta-feira
Cinema Projeto “MARCAS DA MEMÓRIA” FILME “MILITARES DA DEMOCRACIA: os militares que disseram não”.
Direção SILVIO TENDLER
Debate com: EDMUNDO LIMA DE ARRUDA JR – Presidente Honorífico CESUSC e Professor da UFSC
SÉRGIO LEMA – Professor CESUSC
Coordenador: SANDRO SELL – Professor CESUSC
