Comissão vai reunir histórias de jornalistas vítimas da Ditadura

  • Data de publicação
    6 de dezembro de 2012
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Subir em um vagão do metrô de São Paulo naquela terça-feira, em setembro de 1973, talvez tenha sido a pior decisão da vida de Paulo Stuart Wright. Não por culpa dele, é claro, ele não tinha como saber que militares o esperavam em seu ponto de chegada. Para um homem que passara nove anos fugindo do regime ditatorial, um deslize parecia inevitável. Isso na época em que desaparecimento político virou sinônimo de extermínio. Dois anos mais tarde, em 1975, Jaime Wright receberia o telefonema que confirmou o assassinato de seu irmão: “Paulo caiu”, disse a voz do outro lado da linha.

Paulo caiu, mas sua memória continua, dizem as vozes das centenas de comissões e coletivos que buscam a recuperação da história daqueles que sofreram com a ditadura. Nesta quarta-feira (05), o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC) deu seu primeiro passo na contribuição para este esforço nacional. Em audiência pública, proposta pelas Deputadas Ângela Albino e Luciane Carminatti, instalou oficialmente a Comissão da Memória, Verdade e Justiça dos Jornalistas de Santa Catarina. Participaram da mesa diretiva o Deputado Estadual Amauri Soares, o Coordenador do Projeto Direito À Memória e à Verdade, Gilney Viana, o presidente do SJSC, Valmor Fritsche, o Diretor Presidente do Cesusc, Prudente José Silveira Mello e o Jornalista Paulo Markun. A cerimônia, como que em homenagem, ocorreu no plenário que leva o nome de um ex-deputado estadual assassinado nas prisões do regime militar: o comunista presbiteriano Paulo Stuart Wright.

O grupo será formado pelos jornalistas Celso Martins, Leonel Camasão, Paulo Lehmkul Vieira e Elaine Borges, além do Professor Prudente Mello, que traz sua experiência como conselheiro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Até a metade de 2013, eles terão como objetivo a coleta depoimentos, informações e documentos sobre jornalistas que foram vítimas da ditadura militar em Santa Catarina.

“Grande parte das pessoas desaparecidas eram jornalistas”, explica o presidente do SJSC, Valmor Fritsche. Profissionais da Imprensa, como Rui Osvaldo Aguiar Puftzenreuter, desapareceram e seus corpos só foram encontrados anos mais tarde por insistência de seus familiares. Puftzenreuter, nascido em Orleans, morreu sob tortura em 1972. Dirigente do partido operário, foi esquartejado e enterrado em um saco plástico. Sua história representa o que o diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo de Andrade, chamou de “anônimos perseguidos. Vítimas que dificilmente teriam suas memórias contadas”.

Os resultados da Comissão serão encaminhados à Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça dos Jornalistas, que vai organizar e padronizar as informações recebidas pelos Estados e enviará um relatório à Comissão Nacional da Verdade.

“Todos os povos formam sua cultura através da memória. Não podemos tolerar no Brasil um período de névoas, que nos negue a história”, reclama o Coordenador do projeto Direito À Memória e à Verdade, Gilney Viana, que participou ontem da audiência. “Ninguém quer descobrir toda a verdade, isso é um sonho. Nem queremos fazer um documento que seja oficial. O nosso desejo é o de ajudar como pudermos a formar a identidade da nação brasileira”.